Inúmeras vezes, a vida acelera. E em outras tantas ela não para. É um corre danado para dar conta de tanta coisa, desde as coisas que julgamos as mais mundanas até as mais "nobres" tarefas. E no meio desse tanto, desse caos, dessa agitação, existem coisas que não desaparecem. Coisas que, por mais que as deixemos "esquecidas", voltam.
Para mim, é a vontade de criar. Mas de criar livre, de seguir uma sensação, de aproveitar o processo de concepção de uma coisa em todos os seus segundos e não importa a forma da ideia, muito menos seu resultado. Muitas das minhas criações só acontecerão em minha mente, e talvez nunca ganhem forma material. Ainda assim, adoro criar sem necessidade, só pela necessidade de criar. É quase como a constante procura da parte faltante. Faço-me claro? Ou complico mais?
Está claro que não está claro...
Deixe-me tentar seguir para quem sabe me fazer entender, nem que seja de parte. Muito do que fazemos, as atividades ordinárias e necessárias individuais e sociais, são muitas vezes atividades que estão ali ocupando lugares específicos, como, por exemplo realizar determinados trabalhos para pagar as contas. Afinal, ninguém vive de vento, muito menos artista.
O que acontece é que nessa velocidade desenfreada durante essas voltas do sol ao redor da Terra, nos desconectamos com algumas necessidades básicas e particulares de cada um. Mesmo que não nos demos por isso. Mas não fique preocupado não, ela não vai sumir se for genuína, ela sempre estará com você.
Como já disse antes, para mim é a necessidade de criar, sem amarras de ideias pré-concebidas, mas para outro alguém pode ser a necessidade de meditar, de correr, etc.
E essa vontade, mesmo que não seja cumprida diariamente, ou até mesmo que seja deixada de lado por enormes períodos, sempre reaparecerá. É literalmente brasa esperando oxigênio pra aumentar sua combustão. E, bom, a sequência você já sabem.
Foto: Pixabay
Não sei qual a necessidade ou vontade de vocês, talvez esteja ligada a rotina de vocês, de seu trabalho ou diversão.
No meu caso é muito próximo do meu trabalho, mas ao mesmo tempo muito distante. Afinal, por mais que meu trabalho envolva criação de coisas novas quase que diariamente, sempre tenho um desejo absurdo de criar coisas novas para experimentar sensações ou que permitam que outras pessoas sintam sensações e emoções. Criação por criação, pela vontade de testar, de percorrer outros caminhos, de desafiar o que já conheço, de ampliar a curiosidade, de conectar com coisas que ainda são distantes.
Muitas das criações que realizo nas tarefas diárias envolvem objetivos mais concretos. Talvez aí resida justamente a oposição da criação "livre" que acima descrevi. Às vezes, me pego pensando que perdi a vontade de fazer algo novo, de me desafiar, mas quando menos dou por mim, lá está ela, sorrateira e à espreita, com olhos atentos e de fala sedutora.
Às vezes me assusto e acho que ela tenha sumido, mas a verdade é que a chama da criação solta fica lá, tremulante, pequenina, mas sempre acessa.
Depois de 'Os Gretchens', que outras famílias poderiam ter seus realitys?
Ela aumenta quando os olhos veem cores inéditas em nascerem do Sol pegando a estrada cedo para uma turnê, ou quando os ouvidos descobrem outras melodias. Porém, existem tantos outros disparadores: uma frase que escuto solta na rua, uma frase em um muro, uma foto antiga de alguém que não conheço, uma palavra que não sei o significado.
Essa necessidade de criar, não obedece hora, nem lugar, apenas aponta para uma ideia, vaga, quase que um sussurro. E há que se estar atento para não perdemos o que foi dito quando nossas vontades nos falam coisas ao pé do ouvido.
Pois, essa palavras (imagens) são geralmente sabedorias que nos soam como "verdades", espécies de conselhos naturais de sábios xamãs, não sabemos de onde vem, mas geralmente nos arrebatam de pronto.
Elas dizem, volte a meditar, volte a correr, volte a criar, e quase que por mágica nosso redor se transforma. Já identifiquei vários modos e maneiras onde sou mais propício a escutar tais anunciações. Mas sempre me chegam com espanto, como quem diz: "que bom te rever, vamos lá novamente".
E lá vou eu a passear por pensamentos e sonhos desconhecidos, espetáculos, poemas, músicas, filmes, que não realizei, mas que em minha imaginação e mente já estão sendo construídos e quase finalizados.
Senti a necessidade de compartilhar isso com vocês, porque deve ser um sussurro que se aproxima, uma poesia como uma boneca russa que está ao meu ouvido dizendo que sempre existem mais poemas dentro de poemas. Deve ser porque minha necessidade de criar esteja quase gritando: "Afinal, por que vc não veio ainda? Vem logo! tem Arte aqui!".
Bom, seja como for, vou lá seguir essa necessidade inevitável que todos temos, mesmo sendo diferente. Quem sabe não nos encontramos em outra criação por aí?
E você já pensou qual a sua necessidade? Qual aquela vontade que nunca some e te faz bem?
Até o próximo encontro.
P.S. Compartilho com vocês um quadro que faz muito sentido pra mim. Acho que ajuda entender de modo sucinto tudo que tentei colocar aqui.